sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Imaginário XI - o anti imaginário

Há muitos anos (é o que dizem) havia uma linda donzela (também é o que dizem). Essa donzela premeteu que nunca iria interromper o seu crochet até chegar o seu príncipe encantado. As amigas dela diziam-lhe para ela ir para a night mas ela preferia ficar lá no cimo do castelo. Queria entrar para o guiness, mesmo que o rei seu pai se estivesse nas tintas para isso.

"Ó filha, preciso que cases com o Fréderic por causa de uma aliança."

"Ó papá, desculpa lá mas eu fiz esta promessa a nossa Senhora e não posso quebrar. O Fréderic não é o meu príncipe."

O rei já não sabia muito bem o que fazer, até porque aquele crochet estava a tornar-se interminável. Já tinham percorrido o reino todo à procura de novelos e a recessão por causa da falta de aliança com o reino de Frederic estava já num ponto tão mau que os impostos eram pagos em fio de algodão para que a donzela nossa princesa continuasse a cumprir a sua promessa.

Um dia, já metade do reino tinha sido transformado em campo de cultivo de algodão, não com muito sucesso por causa do clima, mas pronto, o papá rei perguntou como raio é que ela ia saber que era o seu príncipe se nunca saía de casa, nunca ia ao shopping, nunca ia para a night, não conhecia ninguém, nem sequer tinha ido para a faculdade.

"Ó papá, vê-se logo, então... ele vai mandar-me um mail a pedir para ser meu amigo no Hi5!"

"Mas ó filha, nós não temos internet!"

"Ó papá, mas isso é porque ainda não inventaram computadores. Vais ver que mais dinastia menos dinastia tudo se resolve."

O rei já não sabia o que fazer.

Resolveu entregar a regência ao seu melhor amigo e reformou-se. Foi para Marrocos e deu início à maior plantação de Cannabis do planeta. Ainda hoje é possível ver, sobrevoando os campos que foram seus, mensagens de pedidos de auxílio como "por favor, se és príncipe liga para o castelo da donzela Amarela e diz que és quem ela espera. Dão-se alvíssaras, pagas em Haxixe."

As amigas da donzela tornaram-se groupies da banda de trovadores e pensavam que todas as músicas lhes eram dedicadas. A dada altura os trovadores resolveram casar com elas só para elas ficarem em casa com os miúdos.

A mãe da donzela foi para um lar de qualidade, ou pelo menos era o que dizia a publicidade, já que quando lá chegou veio a descobrir que a Lili Caneças estava lá cheia de adesivos para lhe segurar a cara. Processou a empresa de publicidade e com o dinheiro que recebeu de indmenização de danos morais e visuais abriu uma escola de aeróbica.

Quanto à princesa donzela Amarela, das duas uma: ou nenhum príncipe sobrevoou a área de plantação ou nenhum deles queria haxixe porque a donzela nunca saiu da torre. Também nunca ficou só, já que recorria frequentemente a serviços de acompanhamento, conforme a PJ veio a descobrir depois de investigar as contas do reino. Veio a descobrir-se também que ela passava largas horas ao telefone como padre Jeremias, já que toda a situação da promessa e depois os acompanhantes a faziam sentir-se pecadora, mas por causa dos quilómetros de crochet que já tinha não conseguia sair do quarto. Felizmente lembrou-se de deixar vaga a janela e recebia comida por lá.

E pronto. Foram felizes para sempre. Ou então não, mas também já ninguém se lembra.

(26 Setembro 2007)